quinta-feira, 18 de junho de 2009

Torpor (1978) - Meu primeiro (até agora único) poema


Em 1978, tempos de ditadura militar no Brasil, eu produzi meu primeiro e até agora único poema.

Ele ainda é surpreendemente atual, acho eu, mas eu o escrevi do alto da sabedoria dos meus 18 aninhos, quando eu estudava filosofia, lia Nietzsche e Neruda e lutava pela anistia dos exilados políticos, ainda que no princípio eu nem entendesse muito bem o que isso significava e o risco que se corria ao levantar essas bandeiras na época.

Paradoxalmente, como sempre, eu também adorava subir no salto muito alto de uma sandália que se usava com meias soquete de lurex para compor o visual "discoteca" de saias rodadas e muito "John Travolta" e "Rivers of Babylon".

Essa sou eu, e essa é a minha obra em versos:

TORPOR


Sons animalescos da minha era me entopem a audição,
ensurdecem !
gritos, greves, manifestos, fazem-me pensar,
pensamentos que apodrecem !

o que enfim procuramos?
dia a dia em romaria,
passo a passo em descompasso !

Mendigamos a paz, guerrilhamos, matamos
e sucumbimos na insensatez!
Na aridez do nosso ser,
já não germina o amor!

Nossos versos doídos
sangram choram, sofrem...
Nossas vozes uníssonas chamam,
declamam, proclamam a dor, o odor e o terror!

e em nossos lábios a saudade,
dos sorrisos radiantes
que hoje no medo se escondem!

Um comentário:

  1. Ursula,adorei ler seu poema,tem certeza que nao tem mais nenhum esquecido em algum canto?
    Escrevi um longo comentario, mas acho que nao foi. Vou descobrir oq fiz errado e farei outro.
    Bjs,
    Ivete

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